domingo, 22 de fevereiro de 2009

A Doutrina da Salvação – Parte 4


Anteriormente, vimos a Eleição e a Proibição de se fazer acepção de pessoas, quando mostramos que a Eleição é o exercício do amor e da graça de Deus, enquanto a acepção de pessoas tem a ver com o exercício do julgamento...
Agora, vamos dar continuidade ao nosso estudo, falando inicialmente sobre:
1. Os Reprovados ou não eleitos
No estudo da eleição é muito natural que a gente pense nas pessoas que não foram eleitas.
Em Pv 16.4 lemos que — O SENHOR fez todas as coisas para determinados fins, e até o perverso, para o dia da calamidade...
Em Rm 9.11-13 está escrito — E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.
Ou seja, Deus se aborreceu de Esaú para que o Seu propósito se mantivesse firme... Deus pode, portanto, na Sua soberania, fazer um vaso para honra e outro para desonra, conforme questiona o apóstolo Paulo em Rm 9:21 dizendo — Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?
Assim, Deus endurece aos que NÃO foram eleitos. É isso o que significa o que está em Rm 11:7 — Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os demais foram endurecidos...
Desta maneira, pela leitura bíblica, descobrimos que existe uma determinação eterna da parte de Deus para que alguns nunca venham a conhecer a Sua graça salvadora.
Essa determinação de Deus, que faz com que alguns não sejam eleitos, é chamada de doutrina da reprovação.
A doutrina da reprovação é citada pelo teólogo Edwin Palmer como sendo: — o decreto eterno, soberano, incondicional, imutável, sábio, santo e misterioso, pelo qual Deus, por eleger alguns para a vida eterna, deixa de escolher outros e condena estes de maneira justa, pelos seus delitos e pecados, para Sua própria glória.
Faraó é um exemplo dessa determinação de Deus, antes da fundação do mundo, para que fosse objeto da sua ira. Ou seja, antes de Faraó ter nascido, já eram determinadas as suas ações contra o povo de Israel.
Uma prova disso está em Gn 15.13-14, onde é dito a Abraão em sonho — Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente (faraó) a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas.
Neste sentido, reparem, em Êx. 9:15,16, Deus diz a Faraó pela boca de Moises — Pois já eu poderia ter estendido a mão para te ferir a ti e o teu povo com pestilência, e terias sido cortado da terra; mas, deveras, para isso te hei mantido, a fim de mostrar-te o meu poder, e para que seja o meu nome anunciado em toda a terra.
Entretanto, mesmo sabendo tudo isso, Faraó continuou no seu caminho ímpio. E, no julgamento pela sua impiedade, Faraó declarou que era pecador e Deus justo, como lemos em Êx. 9:27 — Então, Faraó mandou chamar a Moisés e a Arão e lhes disse: Esta vez pequei; o SENHOR é justo, porém eu e o meu povo somos ímpios.
Assim, pelo exemplo de Faraó, podemos entender que a soberania de Deus atinge tudo, inclusive as obras contrárias à justiça divina.
Entendemos ainda por que o homem, mesmo sendo ímpio, tem a responsabilidade de honrar a Deus em tudo, e assim é julgado por Deus com toda a justiça.
Depois de ver o exemplo de Faraó, podemos concluir que Deus não causou o pecado de Faraó. O pecado, a rebelião e a inimizade contra Deus veio do coração do Faraó.
Não podemos entender tudo sobre a graça e sobre a reprovação, mas, nas diferenças entre os homens, que são todas segundo a vontade de Deus, podemos concluir como Jesus declarou: — Sim, ó Pai, porque assim te aprouve (Mt 11:26).
Nunca entenderemos todos os pensamentos de Deus — Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. (Is 55:8,9).
Entretanto, podemos entender, nos assuntos da eleição e da reprovação, que quem é soberano é Deus. O Senhor pode, portanto, agir com o que é Dele como Ele quiser para Sua própria glória.
Ef 1:11 — nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade...
Hb 10:31 nos diz que — Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.
Mas a verdade repetida pela Palavra de Deus é essa — os que têm Cristo em seus corações, têm vida eterna com Deus.
2. Vamos considerar a Imutabilidade de Deus
Se tudo é conforme o propósito de Deus, tanto aquilo que é agradável, quanto o que é desagradável, a condenação de pecadores não-arrependidos é segundo este propósito também.
É isso o que aprendemos ao ler Is 46:9-10 — Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade...
Se o propósito de Deus é eterno para a salvação, como vimos, também esse propósito é para a condenação. Deus não muda os seus propósitos em REAÇÃO às decisões do homem, pois Deus é imutável e os seus propósitos são eternos.
Assim, tanto no homem que termina no céu, quanto no homem que acaba no inferno, o propósito eterno de Deus é realizado.
Josué 11:18-20 fala sobre isso, dizendo assim, reparem — Por muito tempo, Josué fez guerra contra todos estes reis. Não houve cidade que fizesse paz com os filhos de Israel, senão os heveus, moradores de Gibeão; por meio de guerra, as tomaram todas. Porquanto do SENHOR vinha o endurecimento do seu coração para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma; antes, fossem de todo destruídos, como o SENHOR tinha ordenado a Moisés.
Assim, se é justo para Deus fazer algo no tempo do homem, também é justo para o Senhor fazer o mesmo na eternidade.
E aí podemos perguntar: — Deus é o Autor do Pecado?
Por Deus fazer o ímpio para o dia do mal (Pv 16:4), isso NÃO QUER DIZER que Deus é o autor da impiedade do homem, ou o responsável pela sua condenação pecaminosa, nem a causa do homem pecador ir para o inferno.
O homem pecou porque quis pecar. Ec 7:29 diz — que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias — e a condenação vem pela desobediência.
Ez 18:20 — A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.
João 3:19 — O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.
Assim, o homem é o único responsável judicialmente pelo resultado da sua ação pecaminosa. Sem dúvida, o decreto eterno de Deus inclui a queda do homem no pecado, mas não foi o decreto eterno que causou a queda.
Os homens ímpios que crucificaram Cristo fizeram tudo o que Deus já anteriormente havia determinado que devia ser feito, mas estes homens foram culpados pelas suas ações.
Deus NÃO foi culpado pela Sua determinação prévia. Deus não julga o homem conforme a capacidade do homem, mas segundo a sua responsabilidade (Tiago 4:17).
Deus não condena o homem por uma determinação prévia, mas, pelas obras pecaminosas do homem que são feitas no tempo do homem.
É verdade que o homem NÃO tem capacidade de NÃO PECAR, mas, sem a menor dúvida, ele tem a responsabilidade DE NÃO PECAR.
Em Mc 12:29-31 Jesus diz — O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
Assim, uma vez que o homem pecou, Deus é perfeitamente justo em condená-lo eternamente segundo a Sua justiça.
3. Qual o Proveito em Estudar e Pregar a Eleição
O estudo da eleição dá a devida glória a Deus. No homem natural, SEM a graça de Deus, não habita bem algum (Rm 7:18) e ele não pode fazer nenhuma coisa boa que agrade a Deus (Rm 8:8), sendo a inclinação da carne apenas para a morte (Rm 8:7).
O homem natural não busca Deus (Rm 3:11) e a sua mente não entende as coisas de Deus (1Co 2:14). Tudo que Deus requer para a salvação é o arrependimento e a fé, que não vêem do homem, mas de Deus (Ef 2:8,9).
Assim, a eleição incondicional, pessoal, particular e preferencial atribui a Deus, e somente a Deus, toda e qualquer obra boa que o homem faz para agradar a Deus.
Tanto a santificação do Espírito, quanto a fé na verdade é atribuída a Deus (Ef 2:8,9). Por isso, somos incentivados pela Escritura a dar graças a Deus porque o Senhor nos elegeu para a salvação.
É isso o que nos ensina Paulo em 2 Ts 2:13 — Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.
Na salvação, o homem tem uma responsabilidade que exercita em resposta à operação divina, através do Espírito Santo, mas na eleição, apenas Deus opera.
O estudo da eleição é importante na vida do crente porque a eleição é revelada na Palavra de Deus. Toda a Escritura é inspirada e, portanto, é proveitosa (2 Tim 3:16).
Os discípulos do Senhor, que querem ter uma boa consciência, têm, portanto, a responsabilidade de "anunciar todo o conselho de Deus" (Atos 20:27).
Se a eleição existe na Bíblia é porque ela é proveitosa e deve ser anunciada. Há assuntos que não são revelados a nós, e estes assuntos não são para anunciarmos, ou para estudarmos, mas, os que são revelados, como é o caso da eleição, são tanto para nós quanto para nossos filhos (Dt 29:29).
O estudo da eleição prioriza a fé sobre o raciocínio do homem. É verdade que a eleição NÃO é entendida facilmente. Agora, se não estudarmos a eleição, por ser difícil de entender, estaremos mostrando falta de fé na inspiração das Escrituras, e uma confiança maior no raciocínio do homem.
Quando consideramos mais a lógica do homem do que as declarações divinamente inspiradas, duvidamos que elas sejam proveitosas para o ensino, a correção e o aperfeiçoamento dos servos de Deus.
O deixar de crer no que a Bíblia claramente revela, por não conseguir entender, é o mesmo que dar primazia à lógica do homem, e não à fé.
A fé não se manifesta naquilo que se pode racionalizar, mas naquilo que se entende apenas por ser revelado pela própria Palavra de Deus (Hb 11:1, 6).
Reparem: Deus não pede que entendamos tudo que é revelado pelas Sagradas Escrituras, mas espera que os que querem agradar a Deus creiam naquilo que Ele revela, pela fé.
O estudo e a proclamação das doutrinas da eleição faz parte de adoração verdadeira. A adoração que Deus aceita é aquela que é segundo o Seu Espírito e a Sua verdade declarada.
Deus já expressou qual a maneira conveniente para adorá-lo. É em espírito e em verdade (Jo 4:24). Sabemos que no próprio coração do homem natural não brota verdade, mas somente a perversidade e o engano (Jr 17:9; Mt 15:11, 18-20), porque a verdade é de Deus, pois a Verdade é Cristo (João 14:6).
Se a verdade importa na adoração verdadeira, e se a verdade vem de Deus, o estudo da eleição só pode agradar a Deus, pois é a declaração da verdade.
O estudo da eleição é aceito pelo Senhor como a adoração que Lhe convém. Se as verdades da eleição forem ignoradas e não estudadas, a adoração a Deus pela declaração da verdade ficará comprometida.
Verdadeiramente, pela eleição, um grau imenso do amor de Deus, da Sua misericórdia, da Sua justiça e dos Seus atributos santos é entendido, e esse entendimento agrada a Deus.
Além disso, o estudo das doutrinas da eleição promove crescimento espiritual, promove conforto na alma, edificação em espírito e conformidade à imagem de Cristo.
1Tm 4:14-16 — Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.
O que destrói, desestabiliza, ou leva uma pessoa ao erro, NÃO É o ensinar a verdade, mas exatamente a falta em NÃO ensinar a verdade bíblica.
Jamais a palavra bíblica que instrui, reprova, corrige e doutrina é para a destruição de qualquer membro na igreja.
O estudo da eleição produz evangelismo bíblico. Nem todos que dizem: "Senhor, Senhor" agradam o Senhor Deus, mas somente os que fazem a vontade do Pai (Mt 7:21).
Nem tudo que pode encher uma igreja, ou arrumar seguidores, é de Deus. A eleição direciona e impulsiona os ânimos evangelizadores ao uso dos meios bíblicos, que são a pregação de Cristo (Rm 10:17; 2 Ts 2:13,14) e a oração zelosa (Tiago 5:16; 2Tm 2:1-10).
A pregação bíblica inclui a eleição. Mt 11:25-26 diz — Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
E essa é uma excelente mensagem, porque destrói qualquer esperança que o pecador possa ter em si mesmo, ou numa obra humana ou religiosa.
Pela pregação da eleição, o pecador é incentivado a clamar ao Deus soberano para ter misericórdia de nós diante de Jesus Cristo.
Is 55:6-7 — Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.
Em 1Co 2:1-5 Paulo nos exorta dizendo — Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.
Esse tipo de evangelização é bíblica... Amém

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